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SAMBA RIACHÃO (2001)
Créditos
Longa-metragem, Sonoro, Não-ficção
Material original: 35mm, cor, 86', 2.200m

Origem: Salvador (BA)
Produção:2001
Estréia: Brasília-DF (34º Festival do Cinema Brasileiro de Brasília)
Locações: Salvador


Direção: Jorge Alfredo
Assistente de direção: Eduardo Machado

Companhia(s) produtora(s): Truq Cine e Vídeo
Produção executiva: Sylvia Abreu, Moisés Augusto
Produtor(a) associado(a): Moisés Augusto
Direção de produção: Taissa Grisi
Produção local : J. Velloso
Produção de base : Solange Lima, Raquel Souza
Assistência de produção: Marina Machado, Camila Machado

Roteiro: Jorge Alfredo

Direção de fotografia : Pedro Semanovschi
Câmera: Pedro Semanovschi, Jorge Alfredo
Assistente de câmera: Ivanildo Silva, Robson Jequiriçá, Ivane José Neiva (Zé Bola), Antônio Cláudio, Leno Capinan
Elétrica: Hamilton Pingo, Orlando Fernandes de Souza, Edvando (Lourinho)
Assistente de elétrica: Daniel Mendonça, Romenildo Borges
Fotografia de cena: Sora Mia
Câmera adicional: Cláudio Carioca, Roberto Gudry, Adilson Bacelar, Antônio Cláudio (Dão), José Araripe Jr., Jairo Eleodoro

Som direto : Beto Neves, Eduardo Ayrosa

Montagem : Tina Saphira
Edição de som : Miriam Biderman

Direção musical : Jorge Alfredo
Trilha incidental: Beto Neves, Chico Sá
Produção musical: Beto Neves, Eduardo Ayrosa

Laboratório: Cinecolor, MegaColor
Áudio: JLS Facilidades Sonoras, Estúdio Base, Effects Filmes

Elenco: Depoimentos:
Antônio Risério, Riachão, Bule-Bule, Armandinho, Dorival Caymmi, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Carlinhos Brown, Tom Zé, Cid Texeira, Clarindo Silva, Eduardo Saphira, França Teixeira, Guido Guerra, José Jorge Randam, Manoel Canário, Oscar Santana, Perfilino Neto,Tuzé de Abreu

Apresentações:
Daniela Mercury, Gang do Samba, Gerônimo, Chula de São Brás

Fontes: Transcrição de letreiros (“Samba Riachão”, DVD da cópia 1, acervo Truq); Novíssima Onda Baiana (ABCV).




Imagens
SINOPSE

Sinopse: Através da trajetória de Clementino Rodrigues, o popular sambista baiano Riachão, o diretor aborda a história do samba no Brasil. A experiência pessoal de Riachão, “uma lenda viva do samba de rua da velha Bahia", é o link para falar as transformações no mercado da música popular e nos meios de comunicação no século XX.
IMPRENSA

Imprensa: Luiz Zanin Oricchio, O Estado de São Paulo

Panorama passa pela Tropicália e pelo Axé

Você paga um filme e leva dois. Na verdade, Jorge Alfredo, em seu primeiro longa-metragem, deseja homenagear o cantor e compositor Riachão, e, ao mesmo tempo, refletir sobre a linha evolutiva do samba, a nossa manifestação musical mais popular. Quanto a Riachão, autor de sucessos como Cada Macaco no Seu Galho e O Umbigão da Baleia, não deve haver muita controvérsia. Com sua simpatia e energia vital, o velho Riachão conquista a todos. Quem não gosta dele ou é ruim da cabeça ou doente do pé. Aliás, Dorival Caymmi, autor da frase musical anterior, dá depoimento no filme, ao lado de Caetano Veloso, GilbertoGil, Antonio Risério e mais a fina flor da baianidade, mesmo alguns pouco conhecidos do “público externo”, como o sambista, dono e animador cultural do botequim Cantina da Lua, Clarindo Silva. Todos concordam em gostar de Riachão.

Já a outra vertente do filme, que fala sobre a linha evolutiva do samba, não parece destinada a tanta unanimidade. O gênero teria nascido na Bahia, ambientando-se no Rio nas festas da baiana Tia Ciata e, a partir daí, teria seguido um processo de mudanças que passa pela bossa nova e chega ao axé e até mesmo à bunda music, segundo depoimento de Caetano Veloso.

A idéia aparente do diretor foi celebrar um ponto identificável do samba tradicional –Riachão – e, a partir dele, indicar como o gênero se desdobrou, evoluiu, ou involuiu, segundo o ponto de vista do freguês. De qualquer forma, não ficou no mesmo lugar e mesmo pessoas “insuspeitas”, como a cantora Araci de Almeida, em algum momento de suas vidas se queixaram de ser identificadas com algo glorioso porém parado no tempo. Quem conta o caso é Caetano. Diz que Araci lhe pediu uma música porque ela se sentia cansada de ser “cavalo”de Noel Rosa. Quanto ao pivô em torno do qual essas reflexões se aglutinam, tudo nele é alegria e celebração.

Clementino Rodrigues, o Riachão, é a imagem personificada daquele Brasil tanto malandro como ingênuo, que dribla as agruras da vida com picardia. O prazer de existir está em sua música. Está também na maneira como olha a câmera, fala com os homens e corteja as mulheres. Prazer que pode ser terapêutico para quem da vida só vê a cor cinza.


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Camila Agustini entrevista Jorge Alfredo, Agência Carta Maior (2004)

"Samba Riachão é documentário, é independente e é uma produção nordestina"

Em entrevista exclusiva, o diretor Jorge Alfredo conta um pouco da história do samba na Bahia, avalia a situação atual do cinema nacional e revela o que seus conterrâneos estão preparando para as telonas
Samba Riachão chegou aos cinemas na última sexta-feira, 18 de junho. O documentário do diretor Jorge Alfredo acompanha a trajetória e o cotidiano do sambista Clementino Rodrigues, o Riachão, autor de canções consagradas como Cada Macaco no Seu Galho e Vá Morar com o Diabo.

Para ilustrar a importância do sambista, o filme traz o depoimento de músicos baianos de renome como Tom Zé, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Dorival Caymmi, Carlinhos Brown e Daniela Mercury.
Em entrevista exclusiva para Agência Carta Maior, o diretor conta um pouco da história do samba na Bahia, avalia a situação atual do cinema nacional e revela o que seus conterrâneos estão preparando para as telonas.

Confira a seguir a íntegra da entrevista:

Agência Carta Maior - Por que fazer um filme sobre o sambista Clementino Rodrigues, o Riachão? Qual a importância dele no cenário musical brasileiro?

Jorge Alfredo - A chamada época de ouro da MPB, que vai de 1929 a 1945, quando a nossa música viveu uma das suas fases mais férteis e estabeleceu padrões que vigoraram pelo resto do Século XX; esse ambiente musical, essa transformação sócio-cultural-econômica, são fontes inesgotáveis para o cinema brasileiro. Tanto para documentários quanto para filmes de época. Riachão é desse tempo aí. Nasceu em 1922 e surgiu com o rádio, em programas de auditório. Ele é o samba em pessoa. Samba Riachão é um documentário sobre a vida e a obra de um artista popular que atua com freqüente originalidade no meio artístico da cidade do Salvador. Através da trajetória de Riachão, o filme conta a história moderna do samba da Bahia; o ambiente boêmio e amador, quando o rádio era o principal veículo de comunicação e a indústria do disco ainda se consolidava no Brasil. Riachão vivenciou todas as transformações no mercado de música popular e dos meios de comunicação. Pegou um trem da linha 78 rpm com destino para o CD/DVD. O malandro é sambista, mas é sertanejo, chorão, romântico e forrozeiro.

Samba Riachão percorre os caminhos sinuosos da vida de um artista negro, pobre e famoso. Assim como o samba... Um artista performer, quase um clown... Depois que as luzes apagam-se e ele recebe a louvação da platéia, faz questão de cantar mais uma música, e agradecer ao público por mais um dia feliz. Pode ser uma multidão ou apenas um punhado de gente; para ele tanto faz; esse momento é sempre sagrado.
Quando Caetano gravou em 1972 Cada Macaco No Seu Galho, o público jovem brasileiro tomou conhecimento da música de Riachão. O mesmo voltou a acontecer em 2001 quando Cássia Eller regravou Vá Morar com o Diabo. A importância de Riachão no cenário musical brasileiro só o tempo dirá. Na Bahia ele é uma grande referencia musical. Mas, o Brasil ainda não conhece o Brasil.

CM - O samba é tradicionalmente associado ao Rio de Janeiro. Seu filme parece retomar os versos de Vinícius de Moraes no "Samba da Benção": "Porque o samba nasceu lá na Bahia". Quais outros grandes nomes do samba baiano que não tiveram o devido reconhecimento e mereceriam também um documentário?

JA - Com o surgimento do rádio, o Rio de Janeiro atraiu artistas de todos os cantos do Brasil; os seus filhos mais ilustres e criativos. Esse tempo que antecede a chegada da televisão é de uma riqueza sem igual e o cinema ainda está devendo a transposição dessa época romântica e transformadora para as novas gerações entenderem o nosso país. Baiano, foi primeiro cantor da era do disco e o primeiro a gravar um samba, Josué de Barros, “descobriu” Carmem Miranda, Humberto Porto, de A Jardineira, Assis Valente... Dorival Caymmi, o mestre dos grandes mestres, eles foram os pioneiros. Mas tem Gordurinha, Batatinha, Panela, Bule Bule, Dodô e Osmar (os inventores do trio elétrico e também grandes “chorões”), Dona Edite do Prato, Ederaldo Gentil... O que faz com que a linha evolutiva do samba permaneça em constante transformação. Os tropicalistas modernizaram e eletrificaram os ritmos tradicionais porque a Bahia lhes deu régua e compasso. Alegria Alegria é uma marchinha tri eletrizada. Caetano, Gil e Tom Zé são o link entre a tradição e a modernidade vivida pela avant garde baiana. E samba pra mim é sobretudo João Gilberto. O samba é como vatapá; é feito de vários... A bossa nova, a tropicália, o samba reggae, a timbalada levam o samba para outras leituras e dimensões... É como diz Caetano Veloso no filme: “É o samba que pontua tudo isso aí. Essa história que você está contando, foi toda pontuada pelo samba dessa maneira, mas porque é fatal. A expressão central da música popular brasileira é a forma samba.”

CM - O filme demorou três anos para entrar em cartaz. Por quê? Quais as dificuldades para um filme nacional dessa categoria?

JA - Samba Riachão é documentário, é independente e é uma produção nordestina.Como você vê não lhe faltam atributos complicadores... Mas a hora é de agradecer. O filme entrou em cartaz graças ao edital da Petrobrás para distribuição, no final do ano passado. Essa iniciativa do Ministério da Cultura (MinC) é muito positiva pro cinema brasileiro. O pequeno realizador e produtor necessita muito de apoio nessa hora para conseguir colocar seu filme no circuito comercial. Conto com a experiência e o talento de André Sturm, da Pandora Filmes, a distribuidora, de Moisés Augusto e Sylvia Abreu, da Truq Cine Video, produtores executivos do filme, e do apoio de José Cerqueira, da Braskem, que além de ter patrocinado Samba Riachão, continua a me dar apoio nessa fase de lançamento. As dificuldades são muitas, mas, se Deus quiser, a gente supera uma a uma.


CM - A retomada do cinema nacional dos últimos anos tem repercutido, inclusive, no campo da produção documental. Cada vez mais, mais e mais documentários brasileiros conseguem uma exibição mais ampliada, entrando inclusive em circuito comercial. Como você avalia esse movimento?

JA - Dá gosto de ver... A cada ano o “É Tudo Verdade” se consolida como um dos mais prestigiados festivais de documentários do mundo. E no circuito já estrearam Raízes do Brasil, Glauber- o filme, Edifício Master, Janela da Alma, Nelson Freire. E como se não bastasse vem A Rocha que Voa, Viva São João, O Prisioneiro da Grade de Ferro, Ônibus 174, Surf Adventures, Pelé Eterno, Paulinho da Viola, Fala Tu, Banda de Ipanema, Motoboys – Vida Loca, Rio de Jano, enfim, há documentários pra todos os gostos, cativando o público do circuito comercial!

CM - "Samba Riachão" vem fazendo uma bela carreira nos festivais. Como você encara essas premiações? Elas trazem alguma repercussão para a distribuição do filme?

JA - Os festivais são uma vitrine e tanto! Em Brasília, em 2001, tive oportunidade de sair consagrado pela grande receptividade que Samba Riachão conseguiu. Depois teve Havana, Tiradentes, Belo Horizonte, Setúbal, Santa Maria da Feira, e aí foi indo, foi indo. Demorei dois anos e sete meses pra conseguir colocar meu filme no circuito, mas ele já ocupou muita página de jornal. E é claro que isso ajuda; muita gente já ouviu falar do meu filme, e agora no lançamento comercial isso conta. Só temos seis cópias, quase nenhuma grana para publicidade, então dependemos do boca a boca, da boa vontade e a admiração de jornalistas, críticos, produtores, gente que gosta de promover o cinema brasileiro. É uma luta desigual lançar um filme com apenas seis cópias, num mercado onde os concorrentes entram com 500, 400, 300 cópias. Essa é a realidade não apenas de Samba Riachão, mas da maioria dos filmes brasileiros, principalmente dos documentários.

CM - Muito se diz sobre a produção audiovisual brasileira estar concentrada no trecho Rio-São Paulo. O que você acha disso? O que poderia ser feito no sentido de descentralizar a produção?

JA - Tem quem diga até que o eixo é Rio/Rio, e que só agora São Paulo passou a receber mais incentivos. Na verdade é como no tempo da Rádio Nacional na área da MPB; o Rio atraiu gente de todos os lugares e é um
pólo de cinema vigoroso. O mais importante agora é a gente conseguir atrair público para o cinema nacional. Vamos unir forças.

CM - Pode-se falar em uma cinematografia baiana? Quais seriam os destaques da produção regional?

JA - Bem, vou falar da novíssima onda baiana. A partir de 1993, mesmo com as fortes conseqüências da interrupção da atividade cinematográfica pelo fechamento da Embrafilme, iniciou-se um novo ciclo de produção, que desencadeou o movimento de retomada do cinema feito aqui na “província”. Nos últimos dez anos conseguimos realizar 14 curtas em 35mm que tiveram presenças marcantes em festivais pelo mundo afora. Até que em 2001, interrompemos um jejum de 18 anos sem produzir longas metragens e com a produção de Moisés Augusto, da Truq Cine Vídeo, lançamos 3 Histórias da Bahia, um filme de episódios (Sérgio Machado, Edyala Yglesias e José Araripe Jr.) e Samba Riachão, financiado pela Braskem. Ao mesmo tempo, Sérgio Machado indo pro Rio de Janeiro produzia pela Vídeo Filmes Onde A Terra Acaba. Portanto, muito mais que simples frutos temporão, todos esses filmes são rebentos da nossa retomada. Urge, agora, uma revisão crítica dessa produção já que a coisa cresce a cada ano; Estão sendo finalizados os longas Esses Moços (José Araripe Jr.), Eu me Lembro (Edgar Navarro) e Cascalho (Tuna Espinheira). Sérgio Machado já rodou o seu segundo filme, Cidade Baixa, e está em fase de montagem. Pola Ribeiro ganhou o edital da Petrobrás e vai rodar Jardim das Folhas Sagradas, Geraldo Sarno vai voltar a filmar na Bahia, André Luiz Oliveira também. Eu estou com meu segundo filme engatilhado, o Avant Garde. Estão sendo produzidas mais quatro curtas em 35mm. Lázaro Faria está tocando o seu primeiro longa Cidade das Mulheres. Tem dois ou três projetos captados em vídeo à espera de patrocínio para o transfer tape to film, e, paralelo a isso, uma produção sempre crescente de vídeos, além do DocTV, enfim, a terra de Walter da Silveira continua com forte vocação para o cinema!

CM - Como você avalia o atual cenário cinematográfico ficcional brasileiro? O que lhe agrada mais?

JA - No último Festival de Brasília, eu fiquei encantado com a programação. Filme de Amor, Signos do Caos, Harmada, Garotas do ABC, Lost Zweig... Isso tudo num mesmo festival! E o que é mais interessante; a cada mês são lançados títulos novos no circuito, independente dos festivais; tanto de nossos cineastas renomados como de estreantes. O que me agrada mais é essa rica diversidade da cinematografia brasileira!
Mais informações
Prêmios: 34º Festival de Brasília-DF (2001): Melhor Filme (empatado com “Lavoura Arcaica”); Melhor Montagem; Melhor Filme (Júri Popular).
Cópias disponíveis: 35mm: Truq, Cinemateca Francesa (Paris), Cinemateca Alemã (Berlim)
DVD: Truq; Acervo DIMAS.
Links: Truq Cinema, TV e Vídeo: http://www.truq.com.br/

Novíssima Onda Baiana (ABCV): http://www.abcvbahia.com.br/novaonda/09
riachao1.ht


Contato: sylvia@truq.com.br